Hoje venho com muito pesar tentar escrever algo que seja suficientemente bom para homenagear o nome mais importante do jornalismo em minha vida: Daniel Piza.
Acho que nem todos sabem, mas a minha trajetória de vida foi meio conturbada nos últimos tempos, aquela fase em que somos obrigados a escolher algo pra fazer pro resto de nossas vidas (só de pensar na expressão 'restos de nossas vidas' eu fico meio ressabiada). Porque eu sempre fui uma pessoa muito agitada e fazia tudo e gostava de tudo. Então escolher uma profissão foi algo realmente bastante difícil pra mim. Tão difícil que tentei algumas carreiras e larguei todas. E foi no meio dessas viagens todas (literais ou não) que descobri a minha grande paixão: jornalismo. Por mais que eu tivesse mudado tanto de área escrever sempre foi algo que fiz (e depois de um tempo descobri que era uma excelente forma de desabafar sentimentos sem aborrecer amigos, encher o saco das pessoas - comecei a escrever e entender um pouco mais sobre mim). E nessa caminho todo de descobrimento eu me deparei com o Daniel Piza (uso o artigo aqui porque pra mim ele é como se fosse um íntimo meu). Comprava o jornal O Estado de São Paulo todos os domingos porque me viciei em seus textos. Era como se tomássemos café todos os domingos (tá eu sempre lia as colunas tempos depois do domingo - mas era como se estivéssemos papeando num café, bar, lanchonete... ele sempre falando e eu ouvindo e tentando entender aquele universo fascinante).
Embora houvesse outros escritores no domingo que eu adorava ler Humberto Werneck, João Ubaldo Ribeiro, Luis Fernando Veríssimo, Antero Greco, PVC, Ugo Giorgetti... minhas leituras sempre começavam da coluna Sinopse. Era como se aquilo sim era o essencial e o resto era passatempo. Quando Daniel entrava em férias e via o espaço em que escrevia preenchido por outras coisas, me revoltava, sentia um vazio. Esse vazio agora será eterno.
E um vazio muito maior se faz em minha carreira, já que eu almejava tanto um dia conhecê-lo e poder conversar com ele, aprender um naco daquele universo, daquela complexidade, daquela inteligência, daquele saber. Agora só me resta aprender com seus escritos e seu maior ensinamento: ler, ler abundantemente. Ler até tentar encontrar nas palavras o significado do ser, do viver, tentar encontrar nos escritos aquele indivíduo que se foi. Aquele amigo de todos os Sinopses. O que será dos cafés sem Daniel?
Fez-se um vazio dentro de mim. Espero um dia tranformar esse vazio em estímulo para ser cada vez melhor em minha profissão, em meu ofício, sempre desejando ser uma parte daquilo tudo que ele foi. Sempre tomando sua imensidão de ideias como exemplo. Sem preconceitos, sem limites. Porque não há limites para o conhecimento. Sinto e sentirei eternamente saudades.
"Pode o ser humano ser menos carente? Pode, mas não sei se consegue. Sentimental ou durão, não importa o tipo, ele está ao mesmo tempo frágil e mais confiante do que deveria estar: o meio-termo não é da natureza do amor, em nenhuma latitude do planeta."
Daniel Piza
em sua estreia em O Estado de São Paulo
14 de maio de 2000
Nenhum comentário:
Postar um comentário