domingo, 13 de maio de 2012

Munch e Pink Floyd

Primeiro assista ao vídeo, depois leia o texto:



Adoro quando encontro certas obras de arte "jogadas" na rede. Primeiramente porque elas precisam que alguém as "embale" (no sentido de embalar, nanar), dando-lhes um sentido e uma certa orientação. É fato que muito do que se roda pela internet, às vezes tem um grau de brilhantismo imenso, mas poucas pessoas dão o valor correto a elas pois não sabem analisar.

O vídeo é uma animação feita a partir da obra do artista norueguês Edvard Munch, O Grito, de 1895 - que recentemente foi leiloada e atingiu status de maior lance atingido em um leilão, alcançando nada menos que 119,9 milhões de dólares. A obra é um marco das artes plásticas pois antecipou traumas que seriam verificados na sociedade no século XX, tornando-se, inclusive, símbolo da psicologia moderna.

A obra em si já é um espetáculo. Então por que o vídeo é sensacional? Por causa da trilha sonora. A música utilizada como pano de fundo é da banda inglesa Pink Floyd, The Great Gig in The Sky - música que faz parte do antológico disco Dark Side of the Moon. Depois de ter visto o vídeo eu fiquei me questionando como eu nunca tinha associado as duas coisas anteriormente. A música foi gravada por uma jovem cantora chamada Clare Torry, que foi convidada de sopetão e mal teve tempo de entender qual seria sua participação. Os membros da banda mostraram o instrumental e a jogaram no estúdio, dizendo algo como: cante aquilo que você sente. Claro que eles não tinham a menor noção de que a garota, de apenas 22 anos, arrasaria dentro do estúdio. O resultado foi muito além do imaginado. E é aí que está a magia dessa canção. É tão mágico que, basta reparar, o que embalada a música é a linha vocal, o resto - piano, bateria e baixo - permanece praticamente inalterado, servindo de base. Toda a emoção da música está no contorno melódico produzido por Clare. É muito fantástico.

O estado de êxtase em que eu me encontrei ao ver esse vídeo tem muito a ver com o quanto essas duas obras de arte conversam. Da mesma maneira que O Grito representa um certo sentimento reprimido que se revela de forma surpreendente, e por que não, inesperada; The Great Gig in The Sky é exatamente um sentimento natural sendo capturado ali, em sua plenitude, sem edições. Um desabafo sem palavras. A realização material de um sentimento que muitos de nós sentimos: dias em que acordamos com vontade de dar um grito, de soltar algo que está preso em nossas gargantas.

Outro ponto que nota-se, impossível de não comentar, é que o autor, Sebastian Cosor, além de unir a obra visual com a musical, dá uma expressão corporal ao indivíduo (que não consegue-se discernir se é homem ou mulher), com gestos que a meu ver tem muito de dança, uma leveza nos braços, que percorrem o corpo, o entorno do pescoço e extravazam para acima da cabeça e para os lados. Embora os movimentos sejam suaves e muito bem marcados com a música, ampliam a sensação de confusão da mente. Algo simplesmente extraordinário. Um vídeo para se ver mais de uma vez. Mais de dez, eu diria!

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